Ricardo se comporta diante de uma pintura ou desenho questionando, utilizando de sua força de sentir e razão. Fico com uma satisfação muito grande em vê-lo processar um quadro: cada forma, recanto, cada cor, mutando-se.

Gosto de vê-lo lidando, porque sei de antemão que nada nasce definido. É uma descoberta, descobertas e tentativas, erros e acertos, como quem constrói disciplinadamente; digo isso porque não é desses que se descabelam e varam a noite freneticamente para em seguida cansados e saturados passarem dias, meses ou ainda, talvez, o resto da vida sem mais nada à pintar.

“ À toda estrutura proposta, há uma estrutura imposta” no dizer de Arnheim; o branco do papel diante de Ricardo é uma imposição, assim como sua estrutura e também a textura de sua superfície. E aí o artista é como Deus criando o mundo como o mundo foi criado, nada aleatório.

Primeiro há um impulso, um signo que o levará em cadeia a outros signos e signos, ícones que brotam em uma perfeita sincronização – Emoção/Razão – à intuição controlada. Onde se lê intuição, entende-se talento.

 

João Quaglia